1 de fevereiro de 2015

Sobre caniços rachados e chamas fumegantes


Isaías 42, 1-3: "Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião. Ele não grita, nunca eleva a voz, não clama nas ruas. Não quebrará o caniço rachado, não extinguirá a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a franqueza a verdadeira religião; não desanimará, nem desfalecerá, até que tenha estabelecido a verdadeira religião sobre a terra, e até que as ilhas desejem seus ensinamentos." Esta é a passagem de Isaías que se intitula o Servo, e que  a cerca de 700 anos antes de Cristo, já O anunciava. Expressa a missão do Messias, o Ungido pelo Espírito de Deus: levar às nações a verdadeira religião.
Descreve o jeito de ser de Jesus e a maneira como Ele agirá, a maneira como ele levará a termo essa missão que assumiu: com simplicidade, mansidão, gradativamente, e com uma persistência digna de nota. O objetivo Dele é levar a verdadeira religião a todo mundo, mas como, de que maneira Ele optou por fazer isso? Resposta: sem gritar, sem elevar a voz, sem clamar nas ruas. Ou seja, como se anuncia alguma coisa sem se exaltar? Sendo! Jesus foi o mensageiro, mas mais do que isso, Ele era a própria mensagem. Sua vida, seu testemunho, seu ser... Ele era a Verdadeira Religião. ELE É A VERDADEIRA RELIGIÃO.
Quando diz: não quebrará o caniço rachado, ora... imagine um caniço rachado! Um caniço é um pedaço de cana, mas fininho. Imagine uma varetinha, pequena, fina, frágil, e além de tudo, rachada. Para que serve um caniço rachado? Numa visão superficial e pragmática, diríamos logo: “não serve para nada! Quebra logo e joga fora!” Pois bem, "o Servo" descrito por Isaías, Jesus nosso Salvador, não quebrará o caniço rachado.
Imagine uma chama, bem fraquinha, quase morrendo... só fumengando, só soltando aquela tênue fumacinha, quase apagando mas ainda acesa. Pois bem, "o Servo", Jesus, não extinguirá essa chama, ele não apagará essa pequena chaminha que já solta fumaça e tende a apagar, mas não se extingue. Nosso Senhor não foi e não é do tipo que quebra, extingue as coisas ainda que muito frágeis e quase acabando, não é do tipo que aniquila nada, mas restaura, reconstrói, ajeita. Seu Inimigo sim, veio para matar, roubar e destruir (Jo 10,10), mas o Senhor é construtor! Mais que isso: ele é a pedra angular! (Mt 21, 42; Atos 4, 11)
Quando diz que anunciará com toda a franqueza a verdadeira religião, supomos que não iludirá o caniço sobre sua condição “rachada” e nem disfarçará para a chama sua vulnerabilidade, mas seguirá anunciando a verdade que liberta pois Ele mesmo É A VERDADE (Jo 14, 6). A condição dos caniços e chamas não fará com que Ele desanime, nem desfaleça, até que tenha cumprido seu objetivo. Nossa humanidade tende a desistência. Facilmente taxamos as pessoas de “pau que nasce torto”; as situações de “não tem mais jeito” mas o Senhor não. Ele não desanimará nem desfalecerá enquanto não tiver “religado” todos e cada um a sua origem e seu fim (posto que religião etimologicamente significa religar).

Para isso Cristo veio, para religar-nos ao Pai, nosso Criador: ninguém vai ao Pai senão por meio Dele (Jo 14, 6). Com Sua Paixão, Morte e Ressurreição estabeleu a verdadeira religião sobre essa terra e encarregou todos que Nele creem de anunciar até os confins da terra, dando testemunho de sua fé, sob a ação do mesmo Espírito que o ungiu (Atos 1,8). Com isso precisamos nos comprometer e ter essa fé de que nós mesmos temos jeito sim! Mesmo se nos sentirmos como caniços rachados e chamas fumegantes, Ele jamais desanima e desfalece: ELE NÃO DESISTIRÁ DE NÓS. E nós não devemos desistir de nós mesmos, das pessoas que amamos, do nosso casamento, da nossa família, da comunidade, da evangelização. Temos que ser imitadores desse “Servo” descrito em Isaías, temos que ser imitadores de Cristo (Ef 5,1), não apenas como servos, mas como filhos muito amados de Deus, como amigos pessoais Dele (Jo 15, 15), temos que imitar sua maneira de agir e sua persistência para alcançarmos esse que deve ser o nosso objetivo nº 1 de vida: estabelecer a verdadeira religião sobre a terra e vivâ-la dignamente até que alcancemos a Jerusalém Celeste na volta do Senhor.